Ontem assisti a um exercício performativo a partir de um laboratório de improvisação. Fiquei com uma sensação específica no corpo que traduzo com a palavra insistência. Foi muito precioso acompanhar os performers na sua insistência em fazer o que estavam a fazer. Em vê-los na insistência que insiste em seguir sempre a proposta que está ali. E não ceder a nada, nada, nada. Especialmente à protecção. A dizer "agora não sei resolver isto, faço de conta que não vejo, e apanho a vida mais adiante, como se não se tivesse passado nada. Apanho a vida só quando me achar confortável e tiver uma proposta gira que transmita aquilo que eu quero que os outros pensem de mim." Não. Insistir sempre até à absorção total da insistência. É isso que, para mim, dá uma coerência enorme àquilo que somos. "Eu sou" é uma insistência até às últimas consequências. E no entanto é frequente esse potencial incrível ser dissipado em formas frágeis, e a vida torna-se um conjunto de tarefas para proteger essa casca que sabemos sempre que é frágil, mas que acreditamos ser nós. Protegemos essa casca porque se se partisse essa forma, se se corrompesse essa imagem deixaríamos de saber quem somos. Quando nunca soubemos.
É por isso que a performance salva.
Salva porque é capaz de mostrar que a revelação das coisas como elas são está na insistência de as acompanhar desde o primeiro momento. Quando ainda não se sabe o que elas são de facto. A performace salva porque convida o espectador a perceber o princípio alquímico que diz que as coisas começam a ser no momento em que se deseja elas sejam. É isso que eu entendo que faz a performance. Mostra o que está nos bastidores do que chamamos realidade. E se o performer souber insitir nisso, então talvez se crie o espaço de podermos repensar o interior da casca.
1 comment:
depois de ter escrito isto, li uma frase muito curiosa num livro: a responsabilidade começa no sonho - parece que foi de propósito
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