Monday, August 6, 2012

Corpo sóbrio

Estes dias apareceu-me esta vontade de falar de uma certa forma de juntar o corpo que me apareceu com o nome de sobriedade… este corpo sóbrio é-o no sentido de que não sobra nem falta, tem o que é necessário a cada momento. O entendimento necessário a cada momento. Num processo similar ao que me faz entender quando preciso de alimentos em que quantidade e combinação, também sei o que compreender em que quantidade e combinação a cada momento. O corpo sóbrio no sentido de não estar embriagado pelo que no princípio do movimento é ajustado e depois deixa de ser. Embriagado não pelo atestar dos sinais que emite, mas porque não sabe parar, não sabe construir o contramovimento que diz “agora não mais disto” e iniciar outra coisa. Quando não sei dizer “não mais disto” é porque há uma vontade de me substituir à coisa que vi e que me disse que valia a penar ir por ali. Ir embora para sempre tem que incorporar o ficar já aqui, ou quero-me substituir ao movimento de ir embora, quero ser eu própria o movimento de ir embora, desimplicando-me de ser o que sou e ocupando uma substituição de mim própria que crio só para garantir que recebe os inputs essenciais à sobrevivência. Qual é o lugar em que comi demais, amei demais, soube demais, precisei demais, acumulei demais?… intimamente eu sei qual é esse lugar… sempre soube… posso fazer de conta que não sei, que não é para se falar disto, que há “demais” que não têm fim… que nunca se é bom demais, amigo demais, paciente demais, grato demais… mas não é de um limite fixo que estou a falar… este corpo que vou interrogando não tem limites fixos… é uma charneira ténue, um estremecimento… a quantidade certa de desconhecimento para cada conhecimento… não querer saber demais, não querer ser demais, não querer ocupar demais… os limites móveis são muito mais complexos de considerar.

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